Dia desses acordei com uma saudade do primeiro carro que
comprei.

Era um fusca vermelho ano 76. Impossível esquecer a primeira
vez que entrei nele.
O som raivoso do motor Volkswagen 1200, ecoa na minha
cabeça até hoje.

Passei meses, lavando meu fusca querido diariamente, passeando
pela cidade e mostrando para todos a minha conquista.

Um dia de sábado pela manhã, meu pai me fez um convite para
ir visitar um amigo de longas datas, e de cara me apresentou um Passat Branco
que estava à venda.

Ele foi objetivo comigo afirmando; filho você precisa trocar
seu carro, o fusca é bacana, mas já tem novos carros com mais tecnologia, e meu
amigo quer vender esse Passat, você precisa trocar! Você tá falando sério Pai?

Não aceitei de cara a sua recomendação.

Fui pra casa com a cara fechada, ao mesmo tempo que ele
vinha do lado do carona falando coisas profundas que mudariam a minha vida.

Filho: Você é muito jovem, mas já entendeu, que dois corpos
não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Para que algo novo chegue na sua
vida, você precisa permitir que outra vá embora. Isto serve para sua profissão,
seus relacionamentos sentimentais, conquistas materiais e até mesmo espirituais.
E se por algum momento você passar por dificuldades, entenda que algo precisa
ser mudado, isto não significa que será descartado, mas transformado, guardado,
mas nunca esquecido. O novo precisa chegar, para que sintamos saudade daquilo
que um dia foi bom.

Trinta anos depois, essas palavras ainda ecoam na minha
mente. Sentindo a falta do poeta Belchior e suas reflexões em forma de música, comprovo
que o automóvel continua existindo, às crises pessoais e profissionais também.
Tudo só ficará melhor se você acreditar profundamente que você pode. A novidade
de vida só chegará se estivermos prontos para receber o novo. Antes que você me
pergunte, eu comprei o Passat Branco e foi maravilhoso!

Escrito por Leleco Junior